Promessa Bilionária e Seus Desafios
A relação entre a Argentina e os Estados Unidos tem se fortalecido nos últimos tempos, especialmente com a ascensão de Javier Milei ao poder. Em 2025, Buenos Aires recebeu a garantia de Washington de que “todas as opções estão na mesa” para apoiar o país sul-americano. Uma das medidas já em andamento é a linha de swap cambial de US$ 20 bilhões (aproximadamente R$ 106,6 bilhões), firmada entre os bancos centrais e anunciada no mês passado. Contudo, especialistas apontam que, embora esse montante possa oferecer um alívio temporário, seu sucesso dependerá de fatores além de ajuda financeira direta. Carlos Honorato, professor da FIA Business School, observa que “um revés eleitoral, protestos contra a austeridade ou a sensação de ingerência externa podem comprometer a confiança dos investidores”.
O acordo bilionário deverá ser formalizado em uma reunião marcada para o dia 14 de outubro, entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o líder argentino, Javier Milei. Este movimento recebeu o apoio do secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, conhecido por sua atuação no mercado financeiro de Wall Street. A expectativa é de que essa injeção de recursos tenha um impacto significativo, como demonstrado no dia 22 de setembro, quando a declaração sobre as opções de ajuda fez com que o peso argentino se valorizasse, refletindo um otimismo momentâneo dos investidores em relação à estabilização cambial e ao aumento das ações argentinas negociadas nos EUA.
Um Alívio Temporário?
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A nova injeção de US$ 20 bilhões para a Argentina representa a segunda assistência financeira recebida em um intervalo de apenas seis meses. A primeira ocorreu em abril, quando o FMI (Fundo Monetário Internacional) aprovou um pacote de ajuda. É importante ressaltar que, como o maior acionista individual da instituição, os EUA influenciam qualquer decisão do fundo. No entanto, analistas alertam que, sem reformas estruturais e uma governabilidade sólida, o efeito do aporte pode ser efêmero. A instabilidade econômica argentina é um desafio constante, e em 2025, o peso teve um desempenho pior em relação ao dólar, de acordo com relatórios da consultoria Elos Ayta.
Até 8 de setembro, a moeda argentina já havia desvalorizado 27,4% em comparação ao dólar americano, resultado de inflação elevada, falta de confiança entre investidores e uma dívida externa insustentável. Dados do Instituto Nacional de Estatística e Censo (Indec) revelam que a inflação acumulada até agosto foi de 19,5%. Patrícia Krause, economista-chefe da Coface para a América Latina, destaca que, apesar do otimismo inicial, o risco país voltou a subir para 1.264 pontos no início deste mês, após ter caído para 898 pontos no final de setembro.
Um Paliativo ou uma Solução?
Os analistas veem o recente socorro financeiro mais como um paliativo que proporciona um alívio temporário ao peso e evita uma desvalorização brusca. A valorização é, em sua essência, uma medida simbólica. Carlos Honorato reforça que “o verdadeiro impacto será sentido apenas se o aporte estiver atrelado a reformas consistentes e ao programa do FMI”. Os investidores parecem dispostos a correr mais riscos, mas os desafios políticos e econômicos continuam a ser uma preocupação. A memória do colapso de 2019, quando a confiança na economia argentina despencou após a derrota nas primárias de Mauricio Macri, ainda é fresca na mente dos investidores, como observa Thomas Haugaard, gestor de portfólio de dívida de mercados emergentes da Janus Henderson Investors.
Perspectivas Futuras
A curto prazo, a percepção de risco pode melhorar, resultando em um recuo nos spreads soberanos e um influxo de capital especulativo. O swap cambial poderia proporcionar uma confiança técnica ao mercado, com dólares rotativos que evitariam calotes imediatos. Contudo, essa melhora é volátil e depende da execução das promessas feitas por Milei e da dinâmica política nos EUA. Setores como o imobiliário e o comércio exterior podem se beneficiar com a estabilidade cambial, permitindo uma retomada nas transações e fluxos de exportação.
O Desafio das Eleições
As eleições de meio de mandato em 26 de outubro serão cruciais para a administração de Milei, com a renovação de metade da Câmara dos Deputados e um terço do Senado. Um resultado positivo para o partido do presidente, Libertad Avanza, poderia aumentar sua governabilidade e melhorar a confiança do mercado, segundo Patrícia Krause. No entanto, Carlos Honorato adverte que, se Milei perder apoio eleitoral ou no congresso, até 80% dos efeitos positivos do aporte podem se dissipar rapidamente.
As declarações otimistas do governo americano, incluindo o apoio do secretário do Tesouro e do presidente Trump, reforçam a ideia de que “todas as opções estão na mesa”. Contudo, os detalhes sobre ações concretas ainda são incertos. A trajetória econômica da Argentina tem se mostrado volátil, e a história recente, marcada por acordos com o FMI e empréstimos substanciais, indica que a política local pode corroer qualquer tentativa de estabilização. Por exemplo, após o anúncio de apoio dos EUA, o peso apresentou uma leve recuperação, mas a volatilidade logo retornou com novas restrições cambiais implementadas pelo governo.